TAR - Treinamento de Auto Resgate

                                                                                                                  Por Alex Ribeiro


Em 25 anos de escalada já passei por diversas situações de acidentes e quase acidentes. Se não me falha a memoria, foram sete situações em que tive que intervir para ajudar companheiros em dificuldade. Nas primeiras vezes, por falta de conhecimento e treinamento, essa ajuda foi feita a moda Boi, me colocando em risco as vezes até maior do que a vitima, mas com o tempo fui adquirindo conhecimento, treinamento, praticando as técnicas seguras e nos últimos anos pude executar resgates de  maneira segura e eficiente. Para manter o treinamento em dia no último domingo, dia primeiro de abril, realizei com minha esposa Cristiane Ribeiro, na Pedra do Cantagalo Oeste, em Petrópolis-RJ, o treinamento de auto resgate TAR. Resolvemos compartilhar nossa experiência aqui com vocês, espero que possa ser útil a todos.

O QUE É O TAR?

O TAR é o treinamento de auto-resgate da cordada, onde cada escalador deve ser capaz de resgatar o outro. O treinamento baseia-se na simulação de um acidente em escalada. Os equipamentos utilizados são os dispostos numa escalada tradicional (fitas, mosquetões e cordeletes no geral). Alem de possuir e praticar eventualmente o treinamento, é importante que todo escalador tenha conhecimentos de primeiro socorros, assim como tenha em sua mochila um kit de primeiro socorros básico (esse assunto trataremos em outra matéria).


Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que as técnicas aplicadas na simulação foram as que me pareceram mais práticas e seguras no momento, não sendo necessariamente um padrão, outras técnicas seguras e até mais eficientes poderiam ter sido usadas.

O Simulado

As condições: queda do participante em uma horizontal, causando lesão em dos membros inferiores. Para dificultar a operação, eu não poderia descer a vitima até base pois estaríamos a mais de 60 metros dessa, e eu não teria corda suficiente para rapelar até vitima, pois o meio da corda ainda não tinha chegado até o meu ponto de parada.

Iniciamos a escalada pela via Pisando em Ovos e depois da quarta proteção fiz uma diagonal para direta, para via Minhoca do Velho, montando a parada em P1 dessa via. Cris escalou até a terceira proteção e se soltou, pendulando (muito a contragosto, pois ela já quebrou duas costelas numa queda em horizontal).
A cliente relatou forte dor no pé esquerdo, sem conseguir apoiar o pé, caracterizando uma possível lesão.

Local do treinamento - Cantagalo Oeste Petrópolis-RJ

Passos seguidos

1. Como a cliente estava consciente optei por descê-la, até que passasse a proteção abaixo mais próxima.


Vitima sendo descida um pouco abaixo da proteção mais próxima

sistema de desbloqueio usado para liberar a corda no freio autoblocante.

2. Apesar da segurança do participante estar sendo feita com o Reverso fiz um nó de backup.

3. Em seguida usei o telefone, informei aos grupos de escalada (pelo whatsapp) o ocorrido, dei minha localização, enviei minhas coordenadas usando o app My GPS Coordinates. Não solicitei apoio de bombeiros, mas em uma situação mais grave ou em um resgate mais difícil, pediria ao grupo que o fizesse. Optei por contactar por Whatsapp, pois assim conseguiria informar o acidente a um grande número de pessoas ao mesmo tempo. Nenhum resgate deve ser iniciado sem que antes os serviços de emergência (ou grupo de escalada) sejam acionados, pois em toda operação de resgate existe risco do resgatista se acidentar, se isso ocorre antes de ter acionado o socorro, as consequências podem ser fatais para ele para seu companheiro. 

Mas se o contato não for possível, não existe outra opção ao resgatista, a não ser realizar a operação sem contar com outro apoio.


4. Após ter confirmação que minha mensagem foi recebida, montei dois prussiks e desci até a vitima.

Uso de nós blocantes para descer até a vitima

5Acomodei a vitima no meu colo e pendulamos até a proteção mais próxima. Coloquei um mosquetão mestre no grampo, prendi a solteira da vitima neste e depois outra solteira mais curta usando nó mariner. Para que pudesse liberá-la quando fosse descer.

Cris ancorada com Mariner

6. A vitima se sentiu mal e desmaiou, foi necessário estabilizá-la, usando uma fita no peitoral e uma costura no capacete, para que essa ficasse em posição mais confortável. 

Posição de conforto

     7. Estabilizada a vitima, eu a desencordoei e voltei para o ponto de parada onde a corda estava fixa. Desmontei o freio que estava na parada, montei o rapel e desci novamente, parando um grampo acima da vitima, onde montei o rappel seguinte. Essa opção (Parar um grampo acima), foi por achar que ficaria mais fácil transferir a vitima para meu freio se eu viesse de um ponto mais alto.

  8. Desci, coloquei a vitima de carona no freio, e no backup, liberei suas solteiras, a acomodei em meu colo e iniciamos descida até base.

Vitima em segurança na base. 



Alex Ribeiro é:
Guia e instrutor de escalada certificado pela AGUIPERJ
Supervisor IRATA N3
Técnico de Segurança do Trabalho
















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