Maria Nebulosa


Maria Nebulosa - 15 anos de conquista


Nesse final de semana em comemoração dos 15 anos de conquista da via Maria Nebulosa: 3° IV E4 1040 metros, a primeira escalada do Brasil a ultrapassar os mil metros de extensão,  eu e minha parceira de escalada Cristiane Ribeiro (que também ocupa o cargo de esposa) resolvemos repetir a Via. Já planejávamos fazer essa via há alguns anos, mas era sempre adiada.
Aproveitamos que acabamos de chegar de uma trip de escalada, que passou por Espírito Santo, Minas e Bahia, onde conquistamos 8 vias (total de 2000 metros de parede), algumas grandes com 500 e 600 metros. Como estávamos na pressão dessa trip, resolvemos que era hora de encarar a Maria.
Durante a semana fizemos os preparativos, e na sexta a tarde subimos para Petrópolis. Como já sabia que haveria outra dupla que também repetiria a via nessa data, combinamos de irmos todos no nosso carro. Essa dupla era formada pelos mineiros Guilherme “Binha” e André “Dedão”. Nos encontramos sábado as 5h em Itaipava e as 6h paramos na porteira onde se inicia o acesso a base.
Tomamos café, arrumamos as mochilas e umas 6h40 começamos a caminhada de aproximação. 

Cris e André na trilha de aproximação

Quando estávamos próximos ao costão que leva a base da via, Cris levou uma queda de uns três metros de altura, enquanto subia um dos vários blocos que tem dentro do rio, batendo com força quadril e as costas. Tirei a mochila dela e examinei, ela fez dois pequenos traumas, perguntei se ela queria voltar, ela disse para prosseguirmos.



Cris na 4ª enfiada

Chegamos na base por volta das 8h30, Binha e André que estavam um pouco mais a frente e não haviam visto a queda de Cris já se preparavam para começar a escalar. Seguimos no vácuo deles. As quatro primeiras enfiadas da via são as mais difíceis, com lances de aderência de até 4+, depois o grau para 3°, onde eu e Cris saímos em simultâneo. Fomos assim quase que o tempo todo até P14.

Cris chegando na 4ª parada

Até então o tempo estava nublado, temperatura na casa dos 12°c, mas quando chegamos na P14, começou a ventar mais forte (bem forte), fizemos uma parada para comer, e hidratar e então seguimos. A 15ª enfiada é talvez a mais difícil da via, 4+, só com duas chapas protegendo e uma passagem num pequeno tetinho onde se protege com camelots .5 e .75.. Nessa enfiada o vento já atrapalhou bastante, rajadas que deveriam estar entre uns 60 e 70 km por hora.
Cheguei na parada e montei a segue da Cris. Nisso André chegou e Cris já vinha seguindo atrás, assim que ela chegou peguei os equipos que precisava e segui. Vento muito forte, proteções muito longe, visibilidade muito ruim, devido as nuvens que não paravam em entrar em alta velocidade.

Cris no meio da 14ª enfiada

Costurei as duas chapas da enfiada, mas depois não conseguia ver a parada, fiquei um bom tempo procurando (havia esquecido o croqui no carro). Então vi algo brilhando para esquerda e achei que eram umas fitas metálicas/florescentes que alguém deixou em várias proteções parede abaixo. Estiquei uns 15 metros de corda e quando cheguei vi que era apenas uma folhagem mais clara com orvalho que de longe parecia brilhar. Fiquei um bom tempo caçando a parada (nesse meio tempo Binha já vinha subindo na cordada dele), ele me sinalizou que a via era para direta, consegui ir para direita, mas acabei saindo muito para cima da 16ª parada. Então Binha fixou uma das cordas dele para Cris subir de Prussik e eu ganhar mais corda (os 60 metros já tinham acabado), assim eu poderia subir até a proteção ou a parada da décima sétima enfiada. Esse processo todo levou uma meia hora, pois por causa do vento a comunicação era muito difícil. Enquanto isso eu fiquei me agarrando firme, para não ser varrido da parede, e tentando não congelar. Quando Cris subiu uns 30 metros da 16ª enfiada, segui pela 17ª e cheguei na parada. Então as coisas voltaram ao normal, logo que cheguei Andre chegou e montamos as segues dos nossos parceiros e os chamamos. 


Cris chegando na 17ª depois do perdido na parede

Daí para cima a escalada foi mais tranquila, sem nenhum stress, o vento diminui, o frio também, chegamos ao cume as 15h30, comemos, tiramos fotos, separamos e guardamos os equipamentos. Por volta 16h começamos a descer. 


Cume

Como Cris estava machucada da queda no rio, durante a aproximação, a descida foi muito difícil para ela, e acabamos levando cinco horas e meia para terminar a trilha e chegar até o carro de resgate. Binha e André nos ajudaram o tempo todo, muitas vezes fazendo segurança de corpo para ela em alguns obstáculos mais perigosos durante a descida. A trilha da Maria comprida é a trilha mais técnica de Petrópolis, com vários trechos de escalaminhada, com várias cordas para usar de apoio no caminho.
Chegamos na casa do meu pai as 23h30min mortos de cansados, com fome e muito sujos da trilha. Hoje de manha voltamos de carona ao inicio da trilha de aproximação, onde deixamos nosso carro no dia anterior, pois a escalada sobe pela face Leste em Secretário, mas a trilha desce pelo Sudoeste em Araras.
Agradecimentos ao Binha e Andre, muito parceiros e ao Matheus que nos resgatou no fim da trilha.


Por do Sol

No próximo Post, a historia da Conquista da via em 2002.

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